complicado

Eu sinto-me a cair de velha. Sinto-me incompreendida e ultrapassada. Não ganho nem para ter vontade de viver. Mais do mesmo, não é verdade… Se as minhas ilusões fossem menos palermas e menos estridentes não haveria tanto espaço para as desilusões sistemáticas. Não há, na realidade, nada de muito errado. E é o que me custa mais. Dói-me pensar que choro sem motivo nenhum! Agonia-me saber que não estou a morrer de cancro, que tenho os quatro membros como seria de esperar e que sou filha de, pelo menos, uma pessoa que me ama. Que angústia que é não ter motivo nenhum para chorar e no entanto chorar como se me tivessem arrancado algo muito doloroso. Sou uma caprichosa. “Horrenda”, se mo permitem, sou-o inquestionavelmente! Quem não mataria para ter a vida de rainha que tenho? Estou sempre a desistir, sou sempre a mesma derrotada. A mesma imbecil que nunca sabe quem perde, como perde e onde perde! Um dia vou morrer consciente, aí a Alma Divina suprema me olhará nos olhos e dirá: - Aqui tens, sua desentendida. Aqui tens a tua morte dramática, a tua hipócrita morte romântica. Exactamente como querias que fosse! Com toda a gente a olhar para ti, esmagada contra o caixão. Morta, moribunda. Olha todos a deixar ali tudo aquilo que pretendias: a sua dor contida e medíocre, falsa e complicada. Encenada com o espanto do “humanamente correcto”. Se agora estás feliz contenta-te, agora é eterno.

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