o meu melhor português

Eu não escrevo em verso e tão pouco sei fazer poesia por um motivo muito simples, se eu fosse desse tipo de escrita nunca saberia bem o que dizer. Planeava ao milímetro o que me sai naturalmente. Faria de um sentimento genuíno, uma rima sincronizada. Passando de mecânica a engenheira, se é que me entendem. E eu não sou bondosa a falar, eu falo em bruto, de modo grosseiro. Não sei onde usar as vírgulas e não faço ideia onde é o melhor sítio para pontuar. Eu sou do tipo de escrever sem analisar pormenor nenhum. Sou do tipo de infringir todas as regras. Nunca ligo para as margens do caderno ou mesmo para o limite das palavras, não sei usar vocativos e desconheço a quantidade de figuras de estilo que existe. Apresentem-me um verbo e não vos saberei dizer o modo ou o tempo, eu não sei nada disso. Eu não sou de planear coisa nenhuma. Eu não sou autora e quase que nem sou aluna. Se há coisa que consigo fazer com alma e coração é escrever, escrever igual ao que sinto. Queixem-se vocês de ser complicada a escrever, de dizer coisas sem sentido, de andar de trás para a frente e da frente para trás quando o que eu quero dizer é tão simples… queixem-se vocês de falar das coisas que geralmente ninguém quer falar, ou do que toda a gente fala: quero lá saber. Que não tenho talento nenhum eu já o ouvi dizer por aí, milhares de vezes. Nunca fui das miúdas que lê o que escreve na aula de Português, nunca tive grandes dramas para relatar. Não nasci, aparentemente, para ser ninguém com nenhum dom. Acho que estão errados, eu sinto-me uma privilegiada por não ser aparentemente ninguém. Nunca vou saber nada de Português “matemático”, nunca vou usar fórmulas para saber a gramática mecanizada, sempre vou saber a natureza simples das palavras. O eco das mesmas na minha cabeça, naquela voz acinzentada que narra todos os episódios da minha vida. Esta voz que existe abandonada no meu consciente vai permanecer triunfante quando acabo o meu último ponto final. Esta sou eu, sem nenhuma maquete de mim própria, sou eu. Simplesmente eu. E que grande coisa… 

2 comentários:

Paulo Mota disse...

Já somos os dois a escrever sem "regras". :)

Sara Silva disse...

gostei muito raquel :)